“- Nossa!! Trinta e cinco anos e ainda não se casou? Não tem
filhos? Nossa!! Você deve ser uma pessoa bem infeliz!!”
Coisas que a gente deveria ignorar, mas esse DNA
de Hades que trago comigo não me deixa manter a paz mundial.
- Já que você provavelmente fez este comentário baseado na vida que você tem... Não, minha linda. Não casei.
Não tenho filhos. Não conheço as alegrias de sentir um mini ser sendo gerado na
barriga. Não conheço as alegrias de amamentar esse mini ser, metade você e
metade seu marido. Na verdade acho que ele é mais 80% seu marido. Bom para ele,
né?! O caso é que, ao contrário de você, não sei o que é ter a felicidade de
ter um filho para chamar de seu, de cuidar, de criar e, se supõe, dar educação –
o que muita gente não leva muito a sério. Fato é que não sei também a sensação de ter
que chegar em casa cansada e ter que ir para o fogão fazer o jantar, verificar “Para
Casa” de filhos, colocar a roupa de molho e/ou passar outras tantas já que seu
marido não é muito de te ajudar em casa, como você muitas e muitas e muitas vezes
já nos contou. Posso continuar?
- ... Sim... Acho...
- Ótimo. Não sei o que é ter que
me preocupar com o aluguel ou a prestação de um apartamento no fim do mês. Não
sei o que é ter que preocupar com a matrícula ou se a escola do filho aumentou.
Se ele está doente, está sofrendo bullying ou se é pirraça mesmo, como é o caso
do seu. Podia continuar com as maravilhas de ter um casamento como o seu. Mas,
já que estamos falando sobre a minha felicidade... Te digo que apesar de não
ter toda essa “alegria” que descrevi acima, eu tenho tantas outras experiências
de muitos outros caminhos que caminhei. Eu, por exemplo, viajei. Viajei muito.
E quero viajar muito ainda. Viajei para lugares incríveis. Conheci gente mais incrível ainda. Conheci gente
que até hoje faz parte da minha vida e temos uma relação que você talvez nunca
tenha tido com suas irmãs. Conheci lugares que quero voltar. Conheci lugares
que é para ir só uma vez. (Re)Conheci lugares que nunca tinha ida na minha vida. Conheci gente que amei e amo com um amor mais
profundo que dou conta de sentir. Conversei muito. Escutei bastante. Mas, acho
que falei mais que ouvi. Comidas, bebidas, de tudo um pouco eu provei. Caminhei
muitos caminhos sim. Bem diferentes do seu. Mas, o mais importante é que fiz e faço o meu. Não me enquadro em um estereótipo. Pelo menos penso que não. Agradeço muito
sua preocupação com a MINHA felicidade, mas já tem gente cuidando dela há muito
tempo. Eu.
- ...