sábado, 23 de setembro de 2017

No primeiro dia do ano de 2017



Cheguei de madrugada da Virada do Ano da casa da minha irmã. Acordei às 10h e levantei-me às 10h30. Fui ao banheiro e depois fui tomar café. Estendi às camas. Varri a casa. Passei pano na casa. Lavei banheiro. Lavei a varanda e o quintal. Almocei. Passei a pilha da roupa do Pedro que eu havia lavado um dia antes. Mãe terminou de lavar a louça. Arrumei a copa e a cozinha. Varri e passei duas “de mãos” de pano molhado com desinfetante e tira gordura. Às 14h deitei para descansar um pouco. Levantei-me às 16h. Liguei a máquina de costura. Costurei a lateral do short do Pedro que estava para ser consertado desde outubro. Lavei o short do Pedro e coloquei para secar.  Voltei para a máquina. Embainhei a fralda que precisava disto. Lavei a fralda e coloquei para secar junto com o short. Consertei todas as minhas roupas que estavam descosturadas e a espera da minha boa vontade para fazer. Lavei estas roupas e coloquei para secar. Sentei com um pano de prato, uma agulha e linha. Aprendi a fazer crochê com um vídeo no youtube. Fiz todo o barrado do pano de prato sozinha. Muito orgulhosa de mim! Lavei o pano de prato e coloquei para secar. Recolhi o short e fralda de pano do Pedro. Passei e coloquei na sacola para ela levar para casa. Separei um metro de pano para fazer carteiras de pano. Marquei o molde e cortei. Fui para a cozinha preparar o jantar e a marmita de hoje. Preparei a carne e duas omeletes(uma para mim e outra para minha mãe). Jantei. Fiz a marmita. Voltei para a máquina de costura, mas já era 22h30 e meu corpo já pedia descanso. Fui dormir.

Faça o que tiver vontade de fazer. Mas, faça. 



23/09/2017

Que ano mais doido!!




segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Dona Bea



Meses atrás conheci a Dona Bea (assim mesmo com a letra “e” porque é Beatriz e ela não gosta quando a chamam de “Bia”). Eu estava no interior de Minas Gerais, andando em uma estrada de terra, perto da casa da tia de uma amiga minha, onde estávamos passando uns dias. 

Era uma sexta-feira, por volta de meio dia, o sol estava muito forte e eu parei para descansar um pouco em um banquinho debaixo de uma árvore, ao lado da porteira da casinha dela. E tinha também um pé de cerejeira. Com duas flores.

Casinha branca com janela azul, com fogão a lenha(de longe dá para ver a fumaça saindo da chaminé da casa dela), com quintal e com janela para ver o sol nascer. 

Dona Bea nasceu na roça, cresceu na roça, casou-se, foram morar na roça e hoje aos seus 80 anos, muito provável que não saia mais de lá.

Dona Bea estudou pouco. Como ela mesma disse: “Naquela época não tinha muito recurso.”

Vai à “cidade grande” somente para fazer compras ou para ir ao médico. O que quase nunca acontece porque cuida da alimentação desde sempre. Colhe muito do que planta e troca com os vizinhos o que está sobrando da colheita. Tem fruta e verduras o ano inteiro. Legumes têm suas épocas, mas sempre tem. E tem saúde também. Até hoje ela cozinha com banha de porco, mas fica brava quando é questionada se isto é saudável. Ela responde: “Devolvo tudo para a terra em suor, então não faz mal.”  

Teve nove filhos e todos eles saíram de casa para trabalhar nas empresas grandes da cidade e para continuar os estudos. Eles a visitam regularmente. Nos finais de semana a casa fica cheia de filhos e filhas, genros, noras e netos. 

Ela gosta muito rezar. Reza o Terço todos os dias... “é que aqui a gente tem tempo para a fé.” 

Acredito que quando o deus Chronos criou o tempo, ele colocou uma observação em letras minúsculas no fim da página – daquelas que a gente não consegue ler:

                - Nas grandes cidades você vai correr mais rápido que um raio;
               
               - No interior você vai passar caminhando, sem pressa e sem pressão. Se alguém convidar, sente-se, tome um café e escute uma história. 

Dona Bea teve uma vida de muito trabalho e algumas dificuldades. Disse que nunca passou fome, mas isto se deve porque nunca foi preguiçosa: “A terra dá tudo, mas você tem que ter coragem.”

Ela me encontrou depois de uns 15 minutos em que eu já estava sentada lá. Eu estava tão absorta em meus pensamentos que nem havia notado que ela se aproximava. Ainda do outro lado da porteira, ela começou a nossa conversa:

- A “fia” “tá” longe. “Tá” aqui, mas “num tá”.

Sorri e respondi:

- Estou pensando na vida!

Dona Bea respondeu com um olhar doce e sereno de quem já viveu suficiente para reconhecer dramas inventados:

- Minha “Fia”, vida pensada é vida sofrida.

A Senhora tem razão Dona Bea. Senta aqui um pouquinho, vamos conversar.

domingo, 17 de setembro de 2017

Rosas Que Crescem No Concreto




Dias atrás conheci uma senhora no ponto de ônibus no centro de BH.

O ponto estava cheio de gente, era por volta de 18h40. Eu estava em pé aguardando o ônibus quando um senhor chegou perto de mim, com um bafo de cachaça horrível (diga-se de passagem), e me pediu uma moeda. Neguei, claro! Ele insistiu, dizendo que precisa do dinheiro para pagar a escola da filha e blá, blá, blá. Neguei novamente! Ele não satisfeito, insistiu uma terceira vez dizendo que “é pecado mentir para Deus”. Isso dava um textão filosófico só com a ironia da situação, sem contar que me deu uma vontade imensa de começar uma discussão com ele, mas ando meio preguiçosa com as pessoas. Preferi estar calada, braços cruzados e olhar fixo nele. Ele entendeu o recado.

Ele, então, se dirigiu a esta senhora que estava perto de mim, tão perto que consegui escutar a conversa deles. 

Ele pediu a ela uma moeda também e ela disse que não tinha. Disse que com 76 anos ainda cuidava das netas. Não tinha dinheiro para nada.  Ele saiu satisfeito dizendo: “nela, eu acredito”. 

Depois que ele saiu de perto dela, eu a fiquei observando durante um tempo e não aguentei: Fui lá puxar conversar. A frase que ela disse me incomodou muito: “76 anos e ainda cuido das netas.”!

Ela era negra, muito magra, trazia duas sacolas nas mãos, uma com legumes e a outra não deu para ver o que era. Usava roupas muito simples e chinelo nos pés.

Aproximei-me assim, como quem não quer nada e perguntei:

- A Senhora cuida mesmo das suas netas?

- Sim. Sou eu que cuido das minhas netas. Na verdade, eu cuido é da família toda. Minhas duas filhas estão desempregadas, então chega na hora de comer, vai todo mundo lá para casa. Pouco ou muito, comem o que tiver. Hoje nós almoçamos canjiquinha com feijão preto. A minha vizinha ganhou isto na cesta básica lá da igreja, mas ela não gosta, então, ela me perguntou se eu queria. Pobre pode recusar comida, minha filha? 

E deu um sorriso enorme e eu sorri de volta incentivando que ela continuasse. 

- Minhas filhas não arrumam emprego para nada. Nem de faxina estão conseguindo! 

Comentei que a situação econômica no Brasil está meio difícil mesmo. Parece que ela não ouviu e continuou a conversa mudando totalmente o assunto.

- Uma delas quis arrumar um “homi” branco porque queria que os filhos fossem “bonitos”. Arranjar, ela arranjou, mas ele vale nada. Está preso, graças a Deus! Porque quando está solto, ele pega tudo o que estiver em casa e vende para comprar “pedra”. Mas, as meninas, minhas netas, não têm nada a ver com isso. E as meninas são lindas, viu minha filha! Cada cabelão de dar inveja até em você.

Perguntei se ela morava no meu bairro, já que ela estava esperando no mesmo ponto que eu. Não que passe só uma linha de ônibus no meu ponto, mas perguntei assim mesmo. Para minha surpresa, ela respondeu que não estava esperando o ônibus. Questionei então o que ela estava fazendo ali àquela hora. Ela respondeu:

- Buscando comida. Está vendo aquela loja de quitanda logo ali do outro lado? 

Assenti com a cabeça e ela continuou:

- Todos os dias quando a loja fecha, eles colocam na rua produtos que vão vencer no dia seguinte. Estou aqui esperando a loja fechar e ver o que tem hoje. Eles colocam muita coisa boa. Tem dia que colocam biscoito recheado, tem dia colocam até salame. As meninas, minhas netas, adoram! Ontem me disseram que colocaram manteiga, mas ontem eu não vim. Então hoje eu estou aqui esperando. 

Ela me mostrou a sacola de legumes e disse:

- Essa sacola de legumes eu peguei lá no sacolão. Eles fecham mais cedo. Peguei o que eles colocam no “lixo”. Mas, olha para você ver, isso aqui é lixo?

Não. Não era. Era a comida que ela iria levar para casa. 

- A vida é assim, né, minha filha?! Sempre caminhando, sempre se arranjando como pode, mas sem prejudicar ninguém. Um dia você anda mais, outro dia menos. Mas, o que tem que fazer mesmo é viver. Senão a vida passa e quando vai ver, você não fez nada. Isso deve ser triste!

Eu, que sou boa com palavras, não consigo descrever o que senti à medida que ela ia falando. Lembrei que no último feriado fiz compra e os armários da minha casa estavam cheios; pensei na minha vida hoje; na vida da minha mãe – que tem exatamente a mesma idade dela -;  pensei na vida que minha família tem e repassei mentalmente tudo o que ela havia dito. Quase chorei. Não conseguia controlar meus pensamentos. Acho que fiquei em “choque” durante um tempo porque ela me perguntou:

- A moça está bem?

Balancei a cabeça afirmativamente, cheguei bem perto dela e cochichei no ouvido perguntando se ela aceitava uma “ajuda”(em dinheiro). Ela disse:

- Minha filha do céu! Claro que aceito! Se não vai te fazer falta, claro! Porque pedir, eu não peço. Eu sempre me lembro de minha mãe falando para a gente lá roça, perto de Timóteo que, com pouco ou com muito, a gente tem que viver com o que tem. Não tem que ter inveja do que os outros têm, não. 

Peguei todo dinheiro que estava na minha carteira e entreguei para ela. Ela pegou até sem ver quanto era, me agradeceu, abençoou minha vida e a de minha família e imediatamente ela guardou o dinheiro e escondeu a bolsinha dentro do sutiã, perto da axila. Eu quis rir, mas ainda estava com a história dela na cabeça. Melhor não.

Meu ônibus veio, queria ficar mais um pouco, mas o cansaço venceu e fui embora. 





Não sei, sequer, o nome dela. Mas, estou escrevendo isto para que vocês também a conheçam e para que eu nunca mais esqueça.



terça-feira, 12 de setembro de 2017

Distração



Sou uma pessoa distraída. 

Caminho na rua distraída com tantos pensamentos que constantemente algum conhecido que está passando por mim me cutuca ou grita do outro lado da rua para me cumprimentar. Às vezes recebo ligação também perguntando se “está bem” porque passei por alguém conhecido e não o cumprimentei.

A verdade é que não o vi. Não vejo. 

Quando eu começo a caminhar, meu cérebro interpreta que é hora de ligar o modo “SOLUTION”.

Penso em tudo que está me incomodando e tento resolver. Se não tem nada me incomodando, começo a inventar histórias para as pessoas que cruzam meu caminho. Ou para personagens imaginários. Já devo ter escrito uns 8 livros na cabeça. 

Andar com fone de ouvido é algo impensável. Só presto atenção no que é realmente necessário: Carros, semáforos e flores. 

Andar esta época do ano em Belo Horizonte significa ficar com dor no pescoço de tanto olhar para cima. Os ipês fazem isto com a gente: Deixam-nos mais metidos! 

Os ipês florescem no inverno.

Na semana passada estava na Avenida Abílio Machado, semáforo fechado na Avenida Ivaí. Tem um pé de ipê amarelo perto dali e eu parei o carro bem em frente a ele. Adivinham, né?! O semáforo ficou verde, todos os carros na minha frente andaram e eu fiquei lá parada, olhando o ipê até que o motorista da linha 2290 que estava atrás de mim enfiou a mão na buzina e só largou depois que me distanciei uns dois quilômetros dele. 

(Que falta de paciência e romantismo!)

Para todos os lados em que você olha, eles estão lá. Mesmo à distância é possível vê-los. Buquês gigantes de flores cor de rosa, roxos e amarelos – este último é o meu preferido. Já vi fotos de ipês brancos, mas nunca os vi em Belo Horizonte. Por aqui os mais comuns são os três tipos mencionados acima. 

O que mais impressiona é que o tempo nesta época do ano é tão rígido com as plantas e os animais: seco, frio extremo e mesmo assim eles se fazem magistrais na floração. 

 Avenida Dom Pedro II

Não precisa de muito para ser feliz.



Eu já...

... corri de boi bravo. ... fui embora querendo ficar. ... deixei de fazer coisas por medo de perigo que só existia na minha cabeça. ... vol...