“O que hoje é drama, sempre amanhã, estará
quieto na memória.” Caio F. Abreu
Está mentindo quem disser que é
fácil aceitar o fato de ver os seus pais envelhecerem. Que é fácil vê-los
falando nada com nada. Que é fácil vê-los não conseguindo se levantar. Que é
fácil perder uma referência em vida.
Mente quem diz que é fácil vê-los
sem roupa na hora do banho encurvados – como se a vida que passou pedisse
uma reverência – em cadeira de roda porque nem a perna e nem coluna
agüentam mais o peso de tantos anos e tantas experiências.
Mente quem diz que é fácil ficar
acordada noites inteiras porque o pais estão com insônia, ou tiveram pesadelos,
ou simplesmente querem jogar uma “prosa” fora.
Mente quem diz que é fácil trocar
a fralda deles quando sabemos que a vida foi uma pessoa de valores rígidos,
personalidade forte e, em alguns momentos de lucidez, a gente consegue ver
claramente o constrangimento nos olhos deles.
Mente quem diz que é fácil
convencê-los que aquela casa, aquele quarto é a casa e o quarto deles. Mente
quem diz que é fácil repetir a cada 3 minutos que estamos em casa. Que não
vamos embora para lugar nenhum. Que ali é e sempre a casa deles.
Mente quem diz que é fácil vê-los
ingerindo só líquidos porque não conseguem nem levar colher à boca mais. E que
é fácil engasgar mesmo com aquela sopa.
Mente quem diz que não adianta
chorar quando, às vezes, é a única coisa que nos resta. Quando as forças vão se
esvaindo e nos alcança a desesperança como a de um inverno rigoroso e longo.
E fala a verdade Clarice
Lispector quando diz que se aceitar, dói menos.
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