De passagem

A região da rodoviária de Belo Horizonte é cinza, triste como as despedidas indesejadas, tem cheiro de coisa vencida como muita coisa dentro da gente e tem jeito feio de gente com bulço suado. 

Ao redor tem muitas construções velhas abrigando putas e cafetões e cada um em seu canto ancorando dentro de 4 paredes tristezas, conformismo, luxúria, pobreza, falta de opção e pequenas esperanças de que a vida talvez, algum dia "pode" ser melhor que isso. Uma porta e pernas sempre abertas para o próximo que quiser se arriscar entrar.

Há mendigos implorando uma moeda ou cachaça. Há tempos desistiram de querer atenção ou um pouco de alma. 

Tem gente correndo com malas nas mãos e nas costas. Arrastando pelas mãos crianças que estão à beira de um ataque cardíaco pelo esforço de acompanhar os pais que estão atrasados e vão perder o ônibus. Feições tensas nos pais e de desespero nas crianças. "Mãe, quero um doce." "Não dá tempo filho." Alívio para quem chega de taxi e ainda há largueza no relógio para as eternas despedidas. "Vá com Deus!", "Ligue quando chegar.", "Mande um abraço para fulano."

Sorriso feliz de quem só veio olhar.



Afinal, tem muita vida ali.

Comentários

  1. lembrei de quando fecharam parte do centro de são paulo pra gravar algumas cenas do ensaio sobre a cegueira.

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